28 de dez. de 2015

Vento no Guapuruvu

















Eu saio para caminhar
Sigo os passos cinzentos
E, onde está você?
Embaixo de mim, as flores amarelas
Uma sombra que era só sua
Grande e forte, como sempre gostei
As flores amarelas se foram
As perdas se ligam
A cada nova perda, as outras ressurgem
Foram algumas, não muitas
E eu ouvi
Chovia muito
Deitada em minha rede
Em casa,
sem energia
Com meu menino junto à mim
Ouvi
Alto
Soube depois que era ele
Tão alto, o som. Tão alto, seu porte.
Contentarei-me em caminhar com outras flores.
Com outras cores, com outro norte.

14 de nov. de 2015

Aquíferos

Flutuando sobre um rio
Só os olhos e a mente existem
O corpo se foi
E realmente perdeu sua importância
Que importância teria?
O rio é mais
O rio é mar
Toda cor em seu vale
Toda cor em seu fundo
O vale é esculpido por ele
Que nasce, que brota, empurra rocha, empurra solo, empurra a areia e a joga para cima
e todos buscam aqueles rios
por sua vida
por sua beleza
pela experiência de flutuar
de ver sua força e delicadeza saindo do fundo da terra
Enquanto flutuei, privilegiada
Não vivi mais nada
Não vi outros rios
Não vi barragem
Não vi rejeito
Rio doce ou rio negro
Não vi meninas e famílias
Marianas, pequeninas
Escolas, carros, passagens
E todas as tristezas que foram levadas
um rio é uma coisa vivente
as vidas são as únicas coisas que tem os viventes
e é triste que sejam subtraídas
dói
que os corpos partam
e não partiram para flutuar
que os corpos doam
e não doeram de tanto nadar
que os corpos flutuem
não por terem vivido tanta beleza e amor.
Que nossas mentes saibam aprender ...

21 de jun. de 2015

Sobre as horas que tem passado

Há o que faz levantar
há o que permite deitar em paz
Gosto dos olhos
Olhos atentos, brilhando
Sorriso contido, depois livre
Aproveito para viver, para receber
Porque há o que viver
é possível sentir
Aproveitar as doçuras que deixam para mim nos cantinhos que chego, que me deixo sentar e ficar

Há as meninices
As boas
As cansativas
O parque
A areia
O balanço
As músicas
Também fazem levantar e deitar com muita vontade de viver

Há o que anda ruim …
Ombros pesados, curvados, chegam, entram e saem.
Mas, quanto fiz para que os ombros não reagissem assim.
Penso que fiz, acho que fiz, acho que fiz ...

E fujo um pouco ...
Não sei se devo ...

Saio, caminho, respiro, não sei por quanto tempo.
Corro para sumir mesmo, abro até os braços, e como é bom.
Com música alta, sentindo minha vida e meu corpo vivendo.

Tudo que penso, é tudo meu, sobre o que quero, espero e vivo.
O que fazer?
Com pesos diversos que me fazem oscilar por todo o dia
que me trazem todos os tipos de pensamento
Tento seguir, decidir

Nos entremeios, oscilo entre pulmão livre e ombros pesados.


8 de fev. de 2015

O encontro

Disseram que um dia chegaria o momento dos corpos se encontrarem.
Houve quem desse por certo.
As ideias estavam de certa maneira ligadas. Mas, os corpos tão distantes.
Tateando seguiram e trocaram palavras, frases, até que … segredos.
E chegaram a conclusão de que os segredos, as palavras, as frases, deveriam ser só deles.
Sem presença, tudo segue e seguiu.
...
Mas, quando os corpos se buscavam, renasciam as palavras.
E um peito se enchia e pensava no encontro.
Um abraço. As mãos que se seguiriam pelas costas, para a nuca.
Um cheiro para sentir.
Braços grandes abertos que também seguiriam para as costas. Subiriam pelos ombros e a apertariam com um pouco só de força. Uma respiração profunda.
Ainda desconhecidos.
Sentir-se bonita. Sentir sua beleza. E nada mais.
Seria possível?
Buscou na literatura, nos filmes, na poesia … em todo lugar havia estas buscas e vivências.
A ansiedade e as agonias vividas pelos encontros pareceram triviais. Naturais.
E permaneceram trocando palavras.
À espera do dia imaginário.
Corpos distantes, corpos ausentes.
Seguiram como fragmentos do que queriam viver. Do que poderiam ser. De que poderiam se encontrar.