7 de dez. de 2011

Caminhos cruzados.

(trechinho que escrevi para cantar na música Caminhos Cruzados de Newton Mendonça, interpretada por Simoninha)

Reza a rezadeira
Covil e feiticeira
Pega na minha mão e vem
No final da tarde
depois do sol que arde,
vou cantar pra ti também ...

20 de nov. de 2011

Bruto mundo.


Da janela eu vejo a cidade.

Vejo os parques e árvores. Pássaros que eram de mata e que passam em plena cidade.

Eles nos dizem que mudaram de lugar.

Eles mudaram para as cidades, que estão crescentemente mais arborizadas.

Os bichos, plantas e os homens convivem nas cidades.

As máquinas e outras plantas convivem noutros espaços.

As máquinas e as plantas abastecem os bichos, plantas e homens urbanos.

Os bichos também abastecem os homens.

Como os homens abastecem os bichos, as plantas e as máquinas.

É uma harmonia bruta.


Cintia Godoi

6 de set. de 2011

Os becos de Goiânia.

A cidade está grande demais.

Ela dorme e acorda com movimento.

Até pouco tempo atrás, quando havia feriado, havia também um pouco de sossego.

Agora não há mais.

Mas, também não é tão frenética quanto outras.

Há dias e horários em que se pode parar, pensar, mudar de faixa, se dar ao luxo de até cometer erros, se perder.

Ouvi dizer que Goiânia foi feita para as pessoas se perderem.

É assim que ela seduz seus caminhantes. Com becos, esquinas em que vacilamos olhando, esticando o pescoço pra ver se dá pra ver algo, uma placa “rua sem saída”.

Todos se perdem. E descobrem coisas, lugares. Quadras esportivas, abandonadas e ativas. Jardins, vagas, estacionamentos que salvam noites.

Foi planejada. Mas, por que os becos? Por que tantos? Seria uma homenagem à Goiás, a antiga capital?

Planejamento de cidade que não flui, nunca vi, só aqui.

Ouvi dizer que os becos não estavam nos planos. Apareceram. Surgiram. Como uma cidade que viva, muito viva, escolhe os caminhos daqueles que ousam, ou que erram.

Há histórias desses lugares. Como houve e ainda há em Goiás. Nos tempos de aperto, de decadência do ouro, os becos que viviam amores, e experimentação da vida, passaram a viver um lado mais sombrio dos caminhantes. Promessas e rituais eram feitos em troca de melhoria e prosperidade.

Um corte arqueológico fino, uma fatia superficial mostraria isso. As velas queimadas, os líquidos diversos, secreções e excreções que engrossaram o chão de pedra desses lugares.

Goiânia vive a pujança. Os becos conhecem de tudo. Mas, ainda são mais floridos do que sombrios. Os becos desta convidam. De dia ao sorriso ou mau humor de quem se perdeu, de noite ao sorriso diverso e ao incerto.

A arqueologia do hoje, a geografia, deixa enxergar o que há por lá.

Flores, seringas, bitucas, garrafas, árvores, sapatos, pontas. Tudo cercado, uma saída apenas.

Juntos, objetos que nos dão pistas dos caminhantes das cidades. Eles vivem. Vão de um extremo a outro. Experimentam tudo, todas as sensações. Curiosos e protegidos pela intimidade do beco, os cidadãos cumpriram o que a cidade queria. Ela fez os caminhantes se perderem, ousarem, viverem. É disso que ela vive.

E o beco criado, filho da cidade, seu brinquedo e laboratório, multiplica o ímpeto dos caminhantes, potencializa o que quer que eles queiram ou se sintam impelidos a fazer.

E a cidade sorri. Mesmo que não esteja sadia. E, já foram algum dia?


Cintia Godoi

24 de ago. de 2011

Poesia e nudez.

Poesia é coisa de gente tímida.

De quem quer dizer, sentir, viver ...

Mas, não vai direto ao ponto.

Tímida e caprichosa.

Porque quer dizer, mas não de um jeito qualquer.

Porque quer viver, mas não sem sentir.

Porque quer sentir, mas não sem sonhar.

A poesia “enudece” o corpo e seus sentidos.

Ela conta coisas.

Vai entregando aos poucos.

Com sons, com cores, movimentos.

Às vezes discreta, outras bruta.

Mas, vai surgindo, devagar despindo as sensações

e saciando e transformando a timidez.

Cintia Godoi

28 de jul. de 2011

Eles e nós.

Entrou em casa, passou por todas as portas com suas senhas e câmeras de reconhecimento. Tudo muito seguro e sofisticado.

No sofá da sala pequena ele estava deitado, mexendo em aparelhos.

Configurava, testava, mexia, autorizava, futricava.

Mas, sempre falava com o servidor, e ele respondia. Ele? Não, nosso servidor tinha sido modificado para ser uma mulher. Era uma voz de mulher, tinha inclusive nome.

Muitas vezes ele falava mais com ela do que com outros. Ela lhe dava notícias da casa, das plantas, dos orçamentos, dos consertos, das compras que tínhamos que fazer. Enfim ...

Passou pelo sofá, se beijaram. Seguiu para o quarto, trocou de roupa. Se deitou. Em dúvida entre aparelhos e, cansada, ficou um pouco consigo mesma. Podia escolher entre leitura, vídeos. Nenhum dos dois.

Pensou novamente: nenhum dos três.

O namorado ficara na sala, e ali ainda ficaria muito tempo mexendo nas coisas, consertando, testando e arrumando e, falando com ela – a voz.

Sentiu algo estranho no peito e no estômago. Uma ardência, um calor, talvez até uma vermelhidão. Sentiu em seu peito uma sensação que lhe apertou, expandiu a ardência e diminuiu. Vivenciou uma certa raiva. Virou bruscamente na cama, tentou uma leitura para se distrair.

Sensações não passam fácil. O que era aquilo?

Sabia o que era, mas não queria sentir, era patético demais. Aliás, o que haveria de ser pior? Seu ciúme ou aquela paixão?

As sensações percorriam os corpos na casa, eles se aqueciam, esfriavam, retorciam, os estômagos reclamavam, de fome, de confusão. Os cérebros se agitavam e se acalmavam. E, enquanto isso os objetos – incrivelmente responsáveis por diversas daquelas sensações - apenas refletiam em metal escovado, em cor piano, em vermelho encerado, os corpos que tanto despendiam energia em vão.

Cintia Godoi


9 de jun. de 2011

O poeta e o carteiro.

Azar o dele ...

letra e ritmo apenas ... mas, tá aí .


Convite


Ontem convidei alguém pra um café.
Como de costume, tentei montar uma mesa gostosa.
Dei algumas voltas até tudo dar certo.
Seria um café diferente, sem a minha presença.

E é triste pensar que ele pode nem acontecer.

A água não ser fervida.
O cheiro não ser exalado.
O pó não ser colhido.

O doce não ser deliciado.

Seria possível algo tão triste?

Quero crer que não.

Convite pra doce e pra café não se recusa, mesmo de longe.

Eu em Goiás, o convite em São Paulo.

Eu e Coralina, abusada que sou.

São Paulo e a complexidade, efervescente que é.
Daqui me sento e escrevo, espero o tempo passar.
... quem sabe o cheiro, a toalha, o doce, o café sejam aceitos.
... a caneca novinha seja usada,
a mão se estenda,
os olhos vejam e os ouvidos atenciosos ouçam e, os dedos alcancem ...

teclas e números tocados me darão essa chance?

Cintia Godoi

31 de mai. de 2011

Para abrir uma empresa no Brasil.


Ouvi dizer que para abrir uma empresa no Brasil é preciso muita luta.

Disseram que é uma verdadeira epopéia. Além das dificuldades subjetivas, os medos, os ânimos, a ansiedade, a burocracia pesada e outras coisas, há também as contradições e confusões.

Resolvi contar então um pouco de uma história que conheci pra apoiar aqueles que ousam ser empreendedores ou para dar risada das “inconhas” dessa vida.

Conto o causo como se não fosse meu, afinal sou mineira e esse é um costume divertido.

A sobrinha da minha tia do interior de São Paulo ia abrir uma empresa. Juntou dinheiro, se organizou, estudou algo legal para poder investir e, com tudo mais ou menos decidido e em mãos, ela começou a andar atrás dos trâmites para seu negócio.

Todos diziam que não ia ser fácil, então ela já sabia um pouco do que ia enfrentar. É preciso muito humor e paciência, porque essa minha prima me contou coisas incríveis.

Para termos uma ideia ela me disse: pra abrir uma empresa é preciso um lugar, ter um imóvel ou alugar um. E, pra ter um imóvel comercial, alugar ou comprar ... é preciso ter uma empresa. Primeiro baque. Como fugir disso? É preciso imóvel para abrir empresa e é preciso ter aberto a empresa pra conseguir um imóvel.

Uma sinuca simples, não?

Depois disso resolvido, me contaram que essa pobre sobrinha foi ao banco pra abrir uma conta pra empresa.

Abrir uma conta comercial exige declarar uma renda no nome da pessoa que pretende abrir a conta. Mas, como ter uma renda para declarar se a empresa ainda estava sendo iniciada? Eita. Outra sinuca.

Para resolver só passando por análise do banco, esperando um tempo e agradecendo por ter feito todo o dever de casa durante toda a vida.

Assim, após análises do histórico dessa tal, tudo foi aprovado. Fazia sentido, sim?! Ser necessário ter uma renda para abrir uma conta e abrir conta para tentar ter uma renda.

Outra vez, fiquei sabendo que quando marcada a vistoria da secretaria da fazenda, para analisar o local enfim conseguido, a empreendedora soube que era necessário já ter a fachada com o nome da empresa mesmo antes de ter sido autorizada. Assim, antes de conseguir todos os trâmites legais para funcionar, era preciso investir em propaganda. O que também faz sentido, apresenta-se uma empresa, coloca-se o nome dela na praça, mesmo não estando funcionando, aliás, mesmo sem ter o alvará de funcionamento da secretaria.

E por aí ia, esse é o primeiro causo da epopéia de se abrir uma empresa nesse nosso país tão amado!


Cintia Godoi

14 de abr. de 2011

Uma fuga.


Eu corria, corria. E me via correndo, eu via do alto. Nem sabia o porquê da correria. De repente, passando perto de mim eu vi o Quina. Nossa! Você? E ele sorriu. Onde cê tá indo assim? Quer ajuda? Uai. Pode ser.


Agora, corríamos os dois. Passos largos, de vez em quando uns saltos. É uma prova que não posso perder, é minha última chance. O duro é que não sei nada de português e será minha última chance.

Ali tive certeza de que era um sonho. Mesmo não sabendo português até hoje, há tempos não precisava desse tipo de prova para passar em nada. Mas, continuei; ciente do meu sonho. Por onde você vai? Pela Anhanguera. Continuávamos a correr.

Senti uma agonia estranha, larguei o Quina e entrei num hotel. Uma moça falou comigo. Ela me olhou com estranheza. Pedi umas informações e saí. Quando olhei pra trás, dois caras. E eles fizeram a mulher sumir. Achei que ela tinha sido morta. É sonho, pensei.

Mesmo assim tive medo e me lembrei: o Quina ! Corri e o alcancei. Ele não entendeu nada e voltou a correr comigo. Os caras chegaram, nos alcançaram. Nos colocaram numa sala azul, nós dois tínhamos desmaiado.


Acordei. Percebi o que queriam e o que eram. Até então não sabia de nada, mas em um segundo soube em minha mente. Flutuei e fiz o Quina flutuar.

Ficamos no ar um em frente ao outro, mas ainda deitados. O Quina quis acordar, mas não permiti.

Os homens nos viram, analisaram nosso estado. Nos julgaram espécies idosas, quase sem forças. Esses não servem mais. Caímos.

Despencamos numa piscina em que brincavam duas crianças. A piscina era meio rasa.

Com a água gelada o Quina acordou, levantou-se sem entender nada. Um dos meninos mergulhou e me olhou. Voltou às pressas, puxou o Quina pelo braço e gritou. É uma sereia! Ouvi o que o menino gritou. Quis rir, adorei ouvir aquilo. Mas, não era o que eu era.


Colega distante de escola, nunca fomos amigos, mas senti que ele iria me ajudar.

cintia godoi

2 de fev. de 2011

O menino se foi.


Jeremias.

Pra mim ele era o Jeremias, sempre achei que se pareciam.

Tão bonitinho. Com óculos redondos.

Nariz redondinho também.

Manjava de música, de plantas, colhia mudas por aí.

Violão, solfejos, trompete, pelo que soube depois.

Cantou outro Chico, diferente do de sempre que ouvimos. Era o Anysio mesmo. Um disco que só muitos anos depois fui descobrir e, quando ouvi o original, me lembrei dele tocando e cantando dentro do ônibus. No último lugar.

As viagens do povo. Ele e waguinho formavam uma dupla “ensaiadinha”.

Penso no waguinho. Dois amigos que se foram, meu deus.

Paciência. É esperar que seja como dizem os espíritas, os budistas, são versões que me dão esperança.

Era muito talento para uma vida só. Quero mais pra ele. Quero um orquidário, um viveiro, uma roda de violão, amigos, barzinho ... passeios de dia, festinhas à noite.

Guardo a foto, eu, karol, Sylvia e o Ederval dançando, sorrindo. É isso.

cintia godoi.

11 de jan. de 2011

Texto: Palavras expostas.


Seus textos são muito grandes.
Ninguém mais lê, disse ele.
Tão sábio, tão amaro, tão magro, tão amado.
Tudo bem.
Ficarão aqui, empoeirando mesmo.
Tem gente que deixa sua pinturas por aí.
Deixo minhas palavras aqui.
Até passar um bicho, uma traça, um vírus;
quem sabe? E, os corroer.
Que seja de mansinho, pelas beiradas e que dê um comichão gostoso ...
cintia godoi

7 de jan. de 2011

Música: Through the dark.



As I walk away
I look over my shoulder
To see what I'm leaving behind
Pieces of a puzzle
And wishes on eyelashes fade

Oooh! how do I show all the love
Inside my heart
This is all new
And I'm felling my way
Through the dark

And I use to talk
With honest conviction
Of how I predicted my world
I'm going to leave it to star gazers
To tell me what your telescope says

Oooh! what is in store for me now?
It's coming by
And I know that it's true
Coz I'm felling my way through the dark

Try to find a light on someway
Try to find a light on somewhere
I'm finding I'm falling in love
With the dark all over again

Oooh! What do I know
I don't care where I start
For my troubles are few as I'm feeling
My way through the dark

I'm feeling my way through the dark

Kt Tunstall.