Os pedágios
aumentaram de preço.
Quanto mais fluxos e
interesses havia num espaço, mais caro era para se chegar até ele.
E todos se
acostumavam com tudo, pois as coisas, as mudanças eram feitas aos
poucos, sutis e por vezes inescrupulosas.
Onde chegariam?
Queriam o máximo,
sempre quiseram o máximo da exploração e da riqueza.
Assim privatizaram
os espaços, nunca completamente, para não ficar evidente demais.
Todos podiam ir a
qualquer lugar. Era só pagar o pedágio, o estacionamento, o
manobrista e a entrada nos lugares.
Quem quisesse ir à
pé ou com transportes coletivos sofria horas de espera e de
exposição ao clima.
Como sempre houve
muitos espaços e riquezas, as privatizações não chegavam a ser um
problema tão sério.
Se não podiam ir a
lugares caros, as pessoas se dirigiam à outros lugares. Com menos
estrutura, ou nenhuma, os lugares não privados eram morada, área de
lazer e de trabalho da maior parte da população.
Os grupos se
dividiam, a hierarquia crescia e os espaços eram ocupados por
diversas atividades, de forma indiscriminada.
A racionalização
se impunha à vegetação, aos solos, e aos animais.
As plantas tinham
espaços delimitados. Foram selecionadas algumas espécies que
ocupariam mais espaços. Bem como aconteceu com os animais. Foram
engaiolados, criados, alguns extintos, outros tiveram sua população
conhecida, estudada e aumentada.
A espécie humana
foi uma das mais bem sucedidas na apropriação do espaço, das suas
formas e de seu conteúdo.
E, tendo obtido
sucesso, esta se concentrou em produzir seu poder dentro de sua
própria espécie.
Criando, mudando,
racionalizando, excluindo, incluindo elementos que fossem
determinados politicamente como necessários ao uso do espaço.
Cada grupo com sua
função, cada lugar com sua função, hierarquizando as pessoas e os
lugares, fazendo girar tudo de forma dinâmica, de forma que as
pessoas e os lugares – envolvidos pelo medo de não pertencer ao
movimento – reproduzissem a dinâmica da hierarquia, da apropriação
e da privatização.
Cintia Godoi