4 de mai. de 2012

Os valores humanos.


Os pedágios aumentaram de preço.
Quanto mais fluxos e interesses havia num espaço, mais caro era para se chegar até ele.
E todos se acostumavam com tudo, pois as coisas, as mudanças eram feitas aos poucos, sutis e por vezes inescrupulosas.
Onde chegariam?
Queriam o máximo, sempre quiseram o máximo da exploração e da riqueza.
Assim privatizaram os espaços, nunca completamente, para não ficar evidente demais.
Todos podiam ir a qualquer lugar. Era só pagar o pedágio, o estacionamento, o manobrista e a entrada nos lugares.
Quem quisesse ir à pé ou com transportes coletivos sofria horas de espera e de exposição ao clima.
Como sempre houve muitos espaços e riquezas, as privatizações não chegavam a ser um problema tão sério.
Se não podiam ir a lugares caros, as pessoas se dirigiam à outros lugares. Com menos estrutura, ou nenhuma, os lugares não privados eram morada, área de lazer e de trabalho da maior parte da população.
Os grupos se dividiam, a hierarquia crescia e os espaços eram ocupados por diversas atividades, de forma indiscriminada.
A racionalização se impunha à vegetação, aos solos, e aos animais.
As plantas tinham espaços delimitados. Foram selecionadas algumas espécies que ocupariam mais espaços. Bem como aconteceu com os animais. Foram engaiolados, criados, alguns extintos, outros tiveram sua população conhecida, estudada e aumentada.
A espécie humana foi uma das mais bem sucedidas na apropriação do espaço, das suas formas e de seu conteúdo.
E, tendo obtido sucesso, esta se concentrou em produzir seu poder dentro de sua própria espécie.
Criando, mudando, racionalizando, excluindo, incluindo elementos que fossem determinados politicamente como necessários ao uso do espaço.
Cada grupo com sua função, cada lugar com sua função, hierarquizando as pessoas e os lugares, fazendo girar tudo de forma dinâmica, de forma que as pessoas e os lugares – envolvidos pelo medo de não pertencer ao movimento – reproduzissem a dinâmica da hierarquia, da apropriação e da privatização. 
                                                                                                                                       Cintia Godoi