27 de out. de 2014

À toa da vida

A noite é boa
Era pra ser
Eu faria um bolo pra você
Sou antiquada
Cozinho, lavo, costuro
De nada adianta
O mundo é outro
Tudo mais importa
Sua rebeldia é muito maior do que a minha
Não há muita em mim
Só para comidas, doces e exercícios
Para o resto não tenho rebeldia, não tenho tanta força
Já achei que tinha, um dia pensei que teria.
Hoje tenho apenas energia para doçuras
Meu sentimento é uma delas
Para vivê-lo teria energia
Mas, tudo o mais importa hoje, menos meus sentimentos.
Música, viagens, paisagens, trabalho, vadiagem, cansaço, excessos
Você quer o mundo inteiro, você não está preso a lugar ou pessoa.
E eu queria apenas deitar em um chão gelado, de uma sala fresca, e conversar
Conversar por muito tempo
Passar um café
Comer um bolo
Rir à toa
E viver todo meu sentimento.

2 de set. de 2014

Do tamanho da bola, do tamanho do mundo.



 Quem é pequeno?
Quem sabe seu tamanho?
Ele não sabe.
Ele está abaixado olhando as pequenas coisas da vida.
Acima dele uma árvore florida perde suas flores.
Acima dele está uma cesta de basquete.
À sua frente um gol.
E ele nem liga.
Um céu cheio de nuvens e ao mesmo tempo azul.
E o dia está lindo.
As flores amarelas no chão.
As abelhas entre as flores.
E ele futricando em alguma coisa.
Pode até ser palito de picolé.
Pode até ser bituca de cigarro.
Mas, é tudo tão lindo.
E ele é pequeno. E o mundo é pequeno. E a árvore é enorme.
Guapuruvu. Guapiruvu.
Acho que é.
Sempre amei esta árvore.
Subia uma avenida que não me lembro o nome para ir ver a Lu.
E o Guapuruvu lá, no canteiro. Imponente.
Mas, ele nem sabe disso.
Ainda nem contei.
Deixo o menino com suas descobertas.
Um dia poderei contar as minhas para ele.
E continuaremos sem a menor ideia do tamanho que somos.

29 de jun. de 2014

Sombra e beijo














Uma sombra de árvore.
Uma grama seca, com uma canga bonita.
E nós deitados.
O dia passando.
Ainda espero um beijo.
Ainda espero sua respiração próxima de meu ouvido.
É só um querer.
Seus olhos duvidosos.
Não me dão chance,
mesmo querendo também ...

Eu me senti sair do seu abraço,
e você esperar que eu tivesse ficado mais.
Eu indo embora e você falando
Como quem não deixa acabar.
O dia, a tarde, a noite.
Aperto de tristeza e felicidade.
Cansa, sabe?
Mas, é a agonia da esperança que faz tudo se repetir.
E eu sigo ...
Espero que um dia todo o desejo se concretize.
Espero que nunca se concretize,
e que fique apenas assim, porque é mais fácil.
Porque é doce não viver.
E foi doce aquela tarde.
Mesmo sem árvore, sem canga e sem beijo.

19 de fev. de 2014

ô !

ele está vivo
me faz até pintar as unhas
e eu não gosto de pintá-las
demoro três dias para tê-las prontas
meu violão está calado
por isso posso até me colorir
não consigo tocar
mas, em mim arde à tarde
e, de noite … “de noite ardo”
até me lembrei do famoso verso
hoje me coloro de diversas maneiras
e, em breve vou colorir mais alguns pedaços de mim
a chuva caindo de novo
uma felicidade a mais
                                                                                   é isso. vou me deitar
                                                                                   é assim o dia todo, canso o corpo e,
                                         não do que ando sentindo …                                                                                          
                                     
Cintia Godoi

23 de jan. de 2014

Será ?



Quis escrever
Tentar descrever um movimento
Curvando-se
Voltas que eu sei de que cor são
Algo que nunca gostei
Mas que hoje me chama a atenção
Arrepia até
Que será?
Sei dos contornos arredondados
da firmeza
da nuca
de um pescoço que não conheço, mas posso desenhar
Escrevi enfim
só para ler depois
e me lembrar de que um dia, do nada, senti tudo isso.