21 de fev. de 2010

Conto da cripta: O grande pecado.

Nada mais adiantava. Quando se perde o amor pelas coisas pequenas, nada mais resta. Foi então que começou a escrever a carta. Uma carta para aqueles que não estiveram presentes em todos os momentos especiais de sua vida, uma carta para aqueles que justamente por não estarem presentes em momentos tão especias não puderam torná-los especiais. A carta seria breve. Falaria apenas um pouco sobre a angústia e tristeza de sua experiência em vida. Tinha fé que haveria algo melhor à sua espera, tinha de ser melhor, pior seria impossível. Nada pior do que a indiferença, bem, talvez a dor. Sentiria dor? Bebeu. Bebeu um pouco mais. Não, nada de dor. Melhor seria se não tivesse dor, os anos de tristeza já eram dor o suficiente e naquela noite só a felicidade do despertar seria bem vinda. Tinha tempo, muito tempo, ninguém haveria de chegar, ligar ou chamá-la à porta. Foi então que começou a escrever a carta. Uma carta para aqueles que não estiveram presentes em todos os momentos especiais de sua vida, uma carta para aqueles que justamente por não estarem presentes em momentos tão especiais não puderam torná-los especiais ...

Cintia Godoi

18 de fev. de 2010

Artigo: A urbanizacao do Brasil.

A urbanização do Brasil e as diferentes divisões territoriais do trabalho ao longo do tempo / THE URBANIZATION OF BRAZIL AND THE DIFFERENT TERRITORIAL DIVISIONS OF THE WORK ALONG THE TIME

Cintia Neves Godoi, mestre em Desenvolvimento Regional e Urbano pela UFSC, e doutoranda em geografia
João Batista de Deus, Prof. Dr. de Geografia da UFG


Resumo
Entender como os processos de urbanização vão se consolidando e vinculando interesses externos ao Brasil e, conseqüentemente, às diferentes divisões territoriais do trabalho ao longo do tempo se define como o objetivo deste artigo. Nossa hipótese trata o processo de urbanização como uma conseqüência de interesses voltados a uma divisão territorial do trabalho, ou seja, entendemos que a urbanização vai refletir, de forma geral, o projeto de produção mundial, nacional, regional ou local e, conseqüentemente, quanto mais transformadas as produções, quanto mais adensadas, mais complexas se tornam as redes urbanas e as redes de relações. Para compreender como a divisão do trabalho se processa no Brasil propusemos uma breve periodização do processo histórico relacionado às diferentes divisões territoriais do trabalho, buscando esta possibilidade tanto como um exercício metodológico, quanto como possibilidade de pensar a história do ponto de vista das relações do espaço ou que se estabeleceram no espaço. Os períodos históricos foram definidos com base na tradicional divisão da historia do Brasil em períodos que assumem, por fins didáticos, as divisões entre período Colonial, Monárquico, Primeira Republica, Estado Getulista, Experiência Democrática e Regime Militar associado à transição deste para a Democracia.

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http://www.caminhosdegeografia.ig.ufu.br/viewarticle.php?id=1013

Artigo: Serra do Mar, Serra do Homem.

Há quase quinze anos atrás eu e minha família fomos à Ilha Comprida no litoral de São Paulo. Na descida da serra optamos por passar por Sorocaba e seguir pela SP 079. Um caminho que ficou para a história das histórias contadas em minha casa. Uma rodovia belíssima, florida, com a Mata Atlântica mostrando toda sua beleza e poder, adentrando a rodovia, mostrando que nós éramos pequenas peças na natureza ... Cintia Godoi.

Para ler todo o conteudo, clique no endereco em que o texto foi publicado:
http://www.overmundo.com.br/banco/serra-do-mar-serra-do-homem

Pinturas: Esperando a hora de jogar bola.

Pinturas: indio deitado.

Conto da cripta: Por Onde Andei.

Pensava ela nas coisas que tinha pra comprar, eram tantas. Uma parte por necessidade mesmo e outra por consumismo típico de quem começou a ganhar um pouco de dinheiro. Fazia as contas e, como sempre, o dinheiro não seria suficiente.
Tudo bem, seria a última vez. Pensou na casa com uma lembrança cumprida de quem sempre a frequentou. Aquela casa que tanto tempo roubou. Roubava mesmo. Entrava escolhia o que queria e pegava. A casa era abandonada há tanto tempo. A mulher que viveu por lá, lá morreu e, por alguma razão ninguém nunca havia comprado a casa, vendido ou tomado posse. Será que havia alguém tão sozinho assim no mundo ? Sempre se perguntou isso. Estava feliz, não ia passar por aquilo. Era a última vez que ia roubar coisas justamente para montar sua casa nova. Moraria agora com o namorado. Um teste para ver se dariam certo ou não, ah dariam sim. Sua empolgação a fez ir a uma loja e comprar um liquidificador de copo de vidro e uma mantegueira artesanal. Eram lindas as suas aquisições. Na mantegueira gravaram as iniciais do casal. Patético, mas comum entre os iniciantes. Era um liquidificador moderno, último lançamento. Gastara mais com ele do que podia então os copos ficaram para depois. Este depois durou até que ela se lembrou da casa. Ah, copos não são um problema, ninguém se apega a copos. Nunca pegou colares, jóias e essas coisas. Isso sabia que era desrespeito, mas copos ... brinquedos quando era criança e uma vez até um lençol ... Tudo bem, seria a última vez, ela se mudaria mesmo.
Então quando entrou na casa, pela última vez sentiu uma sensação ruim. Isto também era normal, a casa era suja, abandonada. Restos de cigarros da molecada por todo lado. Era também estranho porque não se podia ficar mais de uma hora na casa, o tempo passava e o ar ficava mais pesado, a respiração ia ficando difícil ... não duvidava que a mulher que ali morou sentisse raiva daqueles que frequentavam a casa. Mas não dela e das amigas, elas iam fumavam também, mas sempre levavam os lixos embora. Teve uma época que até cogitaram limpar a casa, mas não poder ficar mais de uma hora lá dentro dificultava tudo e, revezamento individual era pedir pra apanhar ! Quem ficaria ali sozinho ? Bem, neste dia eram só alguns copos mesmo ... Entrou. Sentiu um cheiro do mofo, dos cigarros, tinha gente na casa. O sons desses lugares são sempre inquietantes, uma pia gotejando, um gato passando, barulhos de calangos entrando em moitas ... mas já havia se habituado. Não estava com medo. Começou a mexer nos armários em busca de copos. Viu umas taças ... Bem, taças seriam ótimas ! Mas não pegaria todas, deixaria algumas. Vamos ver então, cinco copos, três taças, xícaras ? Ah, mas onde estariam os pires e pratinhos ? Em busca de pires e pratinhos ela viu algo inesperado. Com as iniciais do casal, típico de novos casais, uma mantegueira artesanal, velha, quebrada e suja ali estava ainda...

Cintia Godoi

Pinturas: Peixe em cores

Pinturas: Laranja vivo